cinema no pátio: a dupla vida de véronique, de krzysztof kieslowski
cinema no pátio
A DUPLA VIDA DE VÉRONIQUE
Krzysztof Kieslowski / França, Polónia e Noruega / 1991 / Drama / 98’ / M/12
Weronika vive na Polónia. Véronique vive em Paris. Não se conhecem e não têm nenhuma relação. No entanto, são idênticas: ambas são esquerdinas, gostam de andar descalças, têm o mesmo brilho no olhar, uma voz sublime, um sentido musical absoluto e, acima de tudo, partilham o mesmo problema cardíaco dificilmente detetável. Sem o saber, uma irá beneficiar das experiências e sabedoria da outra. Como se cada vez que a primeira se magoasse com um qualquer objeto a segunda evitasse tocar no mesmo. Uma história de amor, simples e comovente, de uma vida que continua, deixando um ser para se perpetuar no corpo e alma de outro.
CINEMA NO PÁTIO
O cinema, como síntese de todas as artes, consegue representar o irrepresentável.
E consegue-o aproximando-se de uma ilusão de realidade assente na mais bela das mentiras: o cinema ele mesmo, como desvelamento de aparições, como aparência das coisas estarem e acontecerem lá, neste lá mesmo à nossa frente. Pelo cinema conseguimos ver o que não vemos no mundo de cá. Inegável paradoxo? Talvez, mas apenas se não o considerarmos em termos cinematográficos: é que pelo cinema estamos sempre mais próximos do impossível. A proposta destas sessões anda à volta de algumas invisibilidades que o cinema, precisamente, dá a ver (não só mas também): a morte em O Sétimo Selo, (Bergman, 1957), os anjos em As Asas do Desejo(Wenders, 1987), o outro eu em A Dupla Vidade Véronique(Kieslowski, 1991) e os sonhos, em Corpo e Alma(Enyedi, 2017). – por Eduardo Brito
O ciclo Cinema no Pátio 2019 é programado por Eduardo Brito.
Eduardo Brito trabalha em cinema, fotografia e escrita. Tem o mestrado em Estudos Artísticos, Museológicos e Curadoriais pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Na FBAUP é assistente convidado e investigador no I2ADS. Escreveu o argumento das curtas O Facínora (Paulo Abreu, 2012), A Glória de Fazer Cinema em Portugal (Manuel Mozos, 2015), Catherine ou 1786 (Francisca Manuel, 2017) e O Homem Eterno (Luís Costa, 2017) e, com Rodrigo Areias, da longa Hálito Azul (2018). Realizou as curtas metragens Penúmbria (2016) e Declive (2018).
Cinema, as a synthesis of all arts, is able to represent the irrepresentable. This series of films explore some of the invisibilities that cinema allows us to see: death in ‘The Seventh Seal’ (Bergman, 1957), angels in ‘Wings of Desire’ (Wenders, 1987), the other self in ‘The Double life of Véronique’ (Kieslowski, 1991) and the dreams, in ‘On Body and Soul’ (Enyedi, 2017).