música
“How to get out? Out of this town?”, cantavam os Glockenwise em 2011, na música “Colombine”. Eram novos, quatro rapazes de uma cidade industrial no Minho, onde a ideia de passar a vida a fazer arte era algo ainda relativamente exótico. Carregados com a energia inconformista do punk e com a inocência e jovialidade da idade, tomaram um lugar central na cena musical de Barcelos, que se ia elevando no panorama do rock nacional. Ao fim de três discos de culto, todos cantados em inglês — Building Waves (2011), Leeches (2013) e Heat (2015), — a banda reinventou-se, em dezembro de 2018. Destacado unanimemente como o disco nacional do ano, Plástico foi uma reviravolta na vida da banda. Um disco incontornável e uma obra-prima na mais recente música moderna feita em Portugal. Pela primeira vez com canções cantadas inteiramente em português, os Glockenwise mostraram à “crítica de Lisboa” como as coisas se faziam na margem. O rock de garagem que os acompanhou nos primeiros anos de vida amadureceu para uma estética pop, roçando ainda a melancolia minhota e gritos punk, perspectivando-se uma banda que ainda tinha muito para dar.
Gótico Português, o novo disco da banda, não é só um regresso aos lançamentos; é também um regresso à margem. Se, em 2011, os (The) Glockenwise olhavam para Barcelos como um lugar na margem, ao qual só queriam escapar, em 2023, os Glockenwise veem a margem com outros olhos. Lançado e gravado de forma independente e em nome próprio, Gótico Português é um olhar para Portugal marginal, rico em tradições visuais e orais, e abundante em manifestações culturais interessantes e bizarras. É a arte que vai da olaria de Rosa Ramalho às bênçãos de Alexandrina de Balazar; É a cultura de música Do It Yourself, cultura essa que foi, e é, a essência dos Glockenwise, que os permitiu transgredir todos os limites que pareciam ser impostos, nem que para isso tivessem de enfiar todo o backline, bateria incluída, num comboio, para ir tocar à capital.
After the critically acclaimed Plástico (2018), Glockenwise are back with a new record that gazes at the underrepresented margins of Portugal’s culture and tradition.