disfiguration land, por benedikt terwiel

Durante séculos, os seres humanos têm vergado a paisagem à sua vontade, adaptando-a às suas necessidades. Mas estas intervenções deixam feridas profundas na terra, algumas nem sabemos que existem. Disfiguration Land revela estas cicatrizes, adotando a visão de uma evolução negativa da paisagem onde a prosperidade, o desenvolvimento e a riqueza dão lugar à devastação e à desfiguração do que nos rodeia. Desenvolvida por Benedikt Terwiel, esta exposição comporta duas peças que se interligam na exploração da paisagem, tema recorrente no trabalho do artista.
The Land before Last (2024) é um filme baseado em vários dados do Instituto Nacional de Topografia dos Países Baixos, que formam um modelo da superfície terrestre do país. Contudo, todo o desenvolvimento humano e a vida de qualquer tipo foram apagados, sobrando apenas vestígios do povoamento reconhecido nas marcas cravadas na terra. A voz de ANOHNI guia-nos através deste vasto sítio arqueológico, mas não é claro onde estamos e para que direção olhamos, para o futuro ou para o passado. O apagamento da vida é como um apagamento da história, é uma paisagem de memória que foi despojada das suas testemunhas e narrativas.
Na Alemanha, Muttersteine (pedra mãe) são pedras de cal litográficas utilizadas até meados do século XX para arquivar e atualizar mapas do país. As inúmeras revisões e correções resultam numa topografia de retoques que documentam as transformações das paisagens ao longo dos anos. Muttersteine de Terwiel parte da digitalização da superfície de uma pedra que documenta a área dos bairros berlinenses de Spandau e Charlottenburg, desde a industrialização até à década de 1930. Ampliações desta pedra revelam paisagens em que o retoque se transforma num terreno fragmentado e cheio de crateras, que quase parece antecipar a destruição durante a guerra.

apoios república portuguesa – cultura / direção-geral das artes. rtcp – rede de teatros e cineteatros portugueses.